Mais de 100 amigos on-line e ninguém para conversar. Se você já passou por isso, saiba que não está sozinho — ou melhor, está. Pelo menos solidão foi a resposta que psicólogos, antropólogos e sociólogos encontraram em comum ao estudar os efeitos da internet e, sobretudo, das redes sociais na vida de seus milhões de usuários ao redor do mundo. O Brasil é o segundo país em número de contas no Facebook, e está entre os 5 países nos quais cada pessoa possui um número acima da média mundial de amigos, que é de cem. Geralmente, os usuários utilizam essa rede para conhecer novos contatos, conversar com parentes que estão longe, ampliar o networking, paquerar ou ir além disso. A última pesquisa sobre o comportamento dos jovens na internet, feita pelo Portal Educacional, constatou que cerca de 15% dos jovens entrevistados já tiveram relações sexuais com pessoas que conheceram on-line. Com o desenvolvimento de novos aplicativos e páginas para estimular o encontro de casais, a tendência é que esse número seja cada vez maior.
No entanto, o que com certeza aumentou – e não para mais de crescer – é o número de internautas. Se antes internet era coisa de gente jovem, essa geração cresceu, se tornou adulta e trouxe com ela o conhecimento do fantástico mundo que nunca desconecta. Pessoas idosas que não querem ficar por fora das muitas novidades que só acontecem nas telinhas virtuais também estão dando um jeito de dar as caras por lá e de se arriscar em um mundo completamente novo, com linguagem e leis próprias. Se existe cada vez mais gente conectada, e se a internet veio para aproximar aqueles que estão separados, seja pelo tempo, seja pela distância, por que é que está ocorrendo justamente o contrário do esperado, com as pessoas sentindo-se cada vez mais solitárias?
Ela não sai do Facebook
O pior é quando isso acontece entre quatro paredes. Os smartphones, celulares com acesso à internet, concretizaram as previsões do passado de que cada membro da família teria seu computador pessoal. O antigo costume do casal de conversar sobre o dia que tiveram ao se deitar na cama à noite está, aos poucos, sendo substituído pela última fuçada no Facebook antes de dormir. É como se desconectar significasse ficar por fora de alguma novidade, e, assim como a televisão, desligar faz a pessoa voltar para a realidade e dar de cara com o vazio da própria existência. Estar conectado é imergir em um mundo idealizado, construído a partir de um recorte de nossas vidas que permitimos mostrar aos outros – e nunca queremos passar a impressão de que estamos por baixo.
As redes sociais já se tornaram protagonistas do término de diversos casamentos ao redor do planeta, isso quando o mundo virtual não propicia uma tragédia maior, como assassinatos por mudança de status de relacionamento ou cenas de violência por causa de uma simples “curtida” em uma foto de outra pessoa. Trair ficou também mais fácil, a apenas um clique de distância. Por isso, agora, mais do que nunca, os casais precisam investir nas relações. Tente sair um dia com seu marido ou esposa sem nenhum tipo de aparato que possa distrair sua atenção. Precisamos urgentemente reaprender a prestar atenção no outro, a ouvi-lo sem interrupções e a aproveitar o momento. O que é a vida senão uma enorme colcha de retalhos feitos de situações boas e ruins?
Conectados desde cedo
E o que falar da precoce relação e familiaridade das crianças com os aparelhos mais modernos, que geralmente os adultos levam pelo menos alguns pares de dias para aprender a usar? Crianças aprendem rápido, mas também são estimuladas a conhecer o mundo virtual cada vez mais cedo. É fácil delegar a educação de uma criança às novas tecnologias. Elas entretêm, educam e ensinam até mesmo melhor do que você acredita ser capaz de fazê-lo.
Experimente levar seu filho para passar um dia na praia simplesmente construindo castelinhos de areia, ou apresentá-lo aos animais de verdade em um passeio em meio à natureza. Crianças costumam ficar fascinadas ao ver pessoalmente os bichinhos de seus livros e desenhos animados prediletos. As lembranças que você possui de sua infância provavelmente provêm de experiências de carne e osso, joelho ralado e uma turminha de amigos que moravam na mesma rua que você. Eles não passavam de meia dúzia e mesmo assim o faziam feliz.
Mas também não significa que você deva excluir suas contas em todos os sites de relacionamento. As redes sociais, como qualquer outra página na internet, são neutras. São boas ou ruins dependendo do uso que se faz delas. Como em todos os campos de sua vida, ela também exige moderação, respeito e bom senso.
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